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quinta-feira, 23 de abril de 2015

O dano

Ao chegar em casa após um dia estafante de trabalho na fazenda Âmbar, Aila fica surpresa e feliz ao ouvir a voz do irmão que havia ido para o front da guerra há dois anos. Mas, ao ver que estranhos homens ameaçam a sua família, Aila teme que aquela volta não seja tão boa quanto esperava.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Filho do Sonho Capítulo I




Capítulo I

“... e o escândalo da alta roda dos advogados da empresa Beldover & Cia estourou hoje pela manhã...”
O nome “Beldover” pronunciado pela apresentadora do noticiário da tarde chamou a atenção de Anna e, de repente, superou o barulho feito pelas pessoas que estavam na cafeteria Vanilla & Coffe. Anna apurou mais os ouvidos e prestou atenção na notícia que estava passando na TV naquele momento. Quase engasgou com o cappuccino que estava tomando com uma rosquinha açucarada ao ouvir o restante da reportagem.
“... a confirmação da gravidez de uma das advogadas do grupo Beldover, Dra. Jessienne Duarte, de 26 anos, conhecida por Jessie “D, de durona”, do renomado – e CASADO – também advogado, o americano Dr. William Richardson Kindale, abalou a famosa empresa de advocacia. O advogado em questão é GENRO do dono da Beldover e sua esposa, a estilosa VERA KINDALE BELDOVER é po-de-ro-sís-si-ma...”.
Se o assunto continuaria ou não, Anna nem quis ouvir. Correu da cafeteria quase se esquecendo de levar os pacotes com o lanche dos colegas. Chegou ao prédio vizinho onde se situavam os escritórios da empresa Beldover sem fôlego. Procurou logo a sala de reuniões, no terceiro andar, onde os advogados de litígio estavam discutindo há semanas sobre um caso difícil de separação. Todos olharam quando Anna parou na porta com uma expressão de pânico no rostinho redondo que estava vermelho pelo esforço da corrida.
- O que foi? – Perguntou o Dr. Rui, correndo para aliviar Anna dos pacotes.
- Na TV... O no...ticiá...rio. Um... escân...dalo!
 Os olhos de Anna encontraram os de Jessie, que fitava sua assistente com espanto. Nesse instante, os telefones começaram a tocar quase ao mesmo tempo: os da sala, os celulares e o interfone. Anna tomou Jessie pela mão e a levou para outra sala, fechando a porta, transtornada.
Os outros ocupantes da sala de reuniões olharam-se aturdidos. O Dr. Elliot Almeida era o único que parecia mais preocupado com os pacotes dos lanches que o Dr. Rui largou na grande mesa de mogno polido. Os assistentes dos dois: Lisa e Alfredo ficaram atarantados com todo aquele alvoroço.
Fechando a porta da sala de Jessie atrás de si, Anna olhou para a amiga com desespero.
- Jess, estão divulgando na TV que você...- parou novamente para tomar fôlego - ...que você...
- Diz logo, Anna. Estou ficando aflita...
- Que você está grávida... – Jessie olhou para sua barriga um tanto volumosa de 5 meses sob o lindo vestido de organza e linho branco com detalhes em renda e voltou o rosto intrigado para a amiga.
- Não estou escondendo isso de ninguém. – Mas Anna falou para Jessie, quase chorando:
- Disseram que é... do Dr. Kindale... – Anna falou o mais depressa que conseguiu.
Como se tivesse ouvido seu nome, o próprio Dr. William Kindale entrou na sala. Parecia contido, mas um músculo traiçoeiro latejava em seu maxilar, denunciando seu conflito. Encarou Jessie com dificuldade. Ela nunca ficara tão embaraçada e espantada em sua vida.  Ele não parecia melhor do que ela.
- Já está sabendo? – perguntou o advogado com uma voz grave, quase sem sotaque para uma Jessie em estado de choque. Ela virou a cabeça, sem conseguir segurar aquele olhar inquisidor e implacável.
Respirando fundo, Jessie tentou acalmar os nervos que não pareciam dispostos a atendê-la. Suas pernas estavam trêmulas.
- Anna, traga um copo com água. – Dr. William ordenou, amparando Jessie. Seu rosto estava sem cor e parecia prestes a cair.
- Estou bem, não se preocupe. – Jessie fugiu do toque do advogado, procurando aparentar uma calma que estava longe de sentir. Deslizou na poltrona  de couro marrom que parecia estrategicamente escorada na parede.
- De onde pode ter saído isto? – Ele perguntou à Jessie, referindo-se a notícia que acabara de ser divulgada na imprensa sem que eles tivessem qualquer noção do que a causara. Ou quem.
- Eu... eu não sei...
- Will, o Dr. Beldover quer vê-lo. Agora. – a voz do Dr. Rui alertou-os pela porta aberta por Anna que trazia um copo com água. Sem mais nenhuma palavra, o Dr. William saiu da sala, mas o ambiente continuou carregado.

O Filho do Sonho Cap. II







As duas assistentes do Dr. Beldover interromperam os cochichos e dissimularam os risinhos debochados assim que viram o chefe se aproximar e entrar na sala da presidência, seguido pelo genro, Dr. William Kindale. Pela expressão grave do rosto do Dr. Beldover, o Dr. William ia passar por maus bocados.
A sós com o sogro, William tentou contemporizar e não perder a calma. O velho David Beldover não era conhecido pela sua tolerância.
- David, eu espero que você não esteja dando ouvidos a essas calúnias. Já lhe disse: Não tenho, nem nunca tive nada com a Dra. Jessie! Isto que estão divulgando é uma grande mentira! Não imagino de onde tiraram isso. É ridículo! É insano! Penso que algum criminoso que condenamos, sei lá, algum inimigo ou concorrente, quer nos prejudicar. E a mídia está conivente com tudo isso. Será que não têm ideia de quanto vão pagar com processos legais por divulgarem boatos infundados como se fossem fatos?
- A questão, Will, é que a culpa de tudo é sua e da Dra. Jessie. – o velho não aceitou a intervenção de William. – Ela começou com isso quando apareceu grávida e escondeu o nome do pai da criança de todo mundo. Isso é muito suspeito. Que razão ela teria para agir assim, já que é solteira e independente? E, como sempre trabalham juntos – vocês dois mais juntos que os outros -  o comentário foi se espalhando e se tornou algo incontrolável. Sem contar que ela sustentou por meses que não estava grávida de verdade, que era só um problema de saúde... Ora, convenhamos, Will! Nada do que ela falou pode ser considerado como verdade. É uma lunática irresponsável. E agora, colocou em risco a sua reputação e a da empresa.
- O senhor não achava isso há seis anos, quando a contratou com as melhores referências. E ela correspondeu à altura e ainda é uma das nossas melhores profissionais.
- Não vamos confundir as coisas, meu rapaz. Ela não é mais necessária. É um estorvo, um embaraço dispensável. E está sendo demitida.
- Que raio de advogado é o senhor? Demitir uma funcionária grávida? E ainda por cima uma das acionistas desta empresa!
- Não venha querer me ensinar a dirigir MINHA empresa, Will! Ela vai ser afastada e se você não concorda, pode acompanhá-la!
William não respondeu à provocação do sogro e saiu daquela sala, pisando duro e demonstrando o quanto estava contrariado. David Beldover não estava lembrando que William era um dos sócios majoritários da empresa.
Independente de ser seu genro, não podia demiti-lo. A menos que pudesse desfazer a sociedade, o que não seria nada lucrativo para o velho Beldover.
Ao longo dos anos, William ia investindo cada vez mais na Beldover. Seu capital era bem maior do que o do dono da empresa. Só concordara na sociedade para livrá-lo da ruína, o que certamente adviria se não contivesse seus gastos exorbitantes.
        Mas William só descobrira a real situação da Beldover depois do casamento com Vera.
        O que seduzira William a entrar naquela empresa era o fato de ser uma grande possibilidade de aprendizado e experiência. Nos doze anos que dedicara àquela empresa, aprendera muito mais do que imaginara.




O Filho do Sonho Cap. III




        - Queria poder te ajudar, Jess. – Anna tentava animar à amiga.
Nos anos em que trabalhavam juntas, Jessie tratava Anna com bastante consideração e amizade, apesar de a maioria dos advogados da empresa  suas assistentes com reserva e distância. Jessie respondeu com pesar:
        - E eu queria saber como isso foi acontecer. – Jessie tomou um gole de água e ficou divagando, encostada na mesa de trabalho - O que eu mais prezava na vida era a minha carreira. Apareceu este problema – olhou tristemente para a barriga saliente - e eu não consigo explicar. – tomou outro gole - Quando o Dr. Gómez disse que eu estava grávida eu ri na cara dele. – disse com um sorriso triste – fiz tudo o que era exame e deu que os médicos tinham razão. Era gravidez mesmo.
        - Se você continuar contando aquela história de que não transou com ninguém, minha amiga, vão te internar ou te canonizar...
        - Mas é a pura verdade, Anna! Meu último namorado foi há dois anos e nós só transávamos com camisinha. E só foram poucas vezes. Ele não teve paciência comigo e eu nunca tinha tempo pra ele. O resto da minha vida é aqui, você sabe. A nossa rotina é trabalho, trabalho e pouco ou nada de vida social.
        Lisa, assistente do Dr. Elliot, apareceu na porta, perguntando timidamente:
        - Estão precisando de alguma coisa?
        - Não, obrigada. – Anna respondeu pelas duas.  Lisa desapareceu, fechando a porta sem barulho.
        - E como foi que engravidou?  Essa história já rendeu muita coisa. Você aparece grávida e não sabe explicar quem é o pai ou como aconteceu...
        - O médico que me examinou achou que eu me drogava ou bebia e não sabia o que fazia. Eu fiz um relatório detalhado dos meus passos, mostrei minha agenda de compromissos e meu diário. Não há uma brecha neles que possa ajudar a entender como eu engravidei.
        - Algumas pessoas acham que você foi seduzida por algum segurança enquanto dormia em sua mesa, ou abduzida por extraterrestres no tribunal...
        Anna ficou séria quando viu que Jessie não riu da brincadeira.
        - É verdade, Anna. – Disse Jessie, com insistência. - Eu não fiz sexo com ninguém, não fiz inseminação artificial ou algo parecido. Eu não consigo explicar esta gravidez, muito menos posso imaginar quem seja o pai. Rezo todas as noites para que não seja nada extraordinário ou nojento.
        - O Dr. Rui acha que você pode ter sido vítima de um “boa noite, Cinderela”.
        - Eu não bebo com estranhos, eu não saio com ninguém. Isso só seria possível se você colocasse algo no meu leite. E eu não apaguei em momento algum aqui na empresa. Vivi e trabalhei cada hora e cada minuto sem descanso ou sossego sequer.
        - E na sua casa...?
        - Eu já falei sobre isso, também.  Eu só não queria que tivessem envolvido o Will nesta história. Ele não tem nada a ver com isso.
        - Todos aqui falam que vocês dois têm uma quedinha um pelo outro há anos.
        - Anna! – Jessie repreendeu a outra. – você sabe muito bem que nós nos respeitamos o bastante e nunca houve qualquer envolvimento entre nós que não fosse profissional. E eu não admito que falem o contrário. Quero descobrir quem é o autor dessas calúnias e vou mandá-lo para o inferno!
        - Calma, não se exalte que não vai ajudar em nada.
        Quando Jessie tomou conhecimento do alcance negativo que aquela notícia tomara, não imaginou a proporção. Dezenas de jornalistas de várias emissoras de rádio, TV e jornais sensacionalistas se acotovelavam na entrada do prédio da Beldover esperando informações sobre o escândalo. O Dr. William não voltara para o escritório depois da “conversa” com o Dr. Beldover, por isso não correu o risco de ter sido bombardeado por perguntas na saída. Jessie não teve a mesma sorte. O Dr. Rui a instruiu e aconselhou sobre como proceder, o que a ajudou bastante, já que não estava conseguindo raciocinar muito bem. A Empresa Beldover tinha  vários clientes importantes e famosos, o que fazia com que os advogados e funcionários tivessem vários planos de emergência para preservar a identidade e a integridade dos clientes, na entrada e na saída do prédio. Mas não funcionou bem para Jessie,  que precisou passar por eles para chegar ao estacionamento onde deixara seu carro.
        Aos jornalistas mais agressivos, o Dr. Rui sorriu e pediu calma. Jessie desmentiu a notícia anterior sobre a paternidade da criança que carregava no ventre e disse que só era da conta dela com quem se relacionava. Um dos jornalistas jogou que, se ela não tinha nada a esconder, por que não dava logo a informação e acabava com o mistério de uma vez? Se Jessie caísse no jogo dele e dissesse que não sabia quem era o pai, ia parecer uma vadia. E, com certeza, eles saberiam pintá-la como uma vadia carregando bem nas tintas.
        Conseguindo se desembaraçar com elegância da avidez dos jornalistas, Jessie pegou seu carro e foi para casa, tomando cuidado para não ir pelos caminhos habituais e olhando de vez em quando se estava sendo seguida por algum paparazzi mais afoito.       
        Sua vizinhança estava calma, mas quando chegou  casa, o telefone estava tocando. Quando atendeu, suas pernas bambearam um pouco.