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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Filho do Sonho Capítulo I




Capítulo I

“... e o escândalo da alta roda dos advogados da empresa Beldover & Cia estourou hoje pela manhã...”
O nome “Beldover” pronunciado pela apresentadora do noticiário da tarde chamou a atenção de Anna e, de repente, superou o barulho feito pelas pessoas que estavam na cafeteria Vanilla & Coffe. Anna apurou mais os ouvidos e prestou atenção na notícia que estava passando na TV naquele momento. Quase engasgou com o cappuccino que estava tomando com uma rosquinha açucarada ao ouvir o restante da reportagem.
“... a confirmação da gravidez de uma das advogadas do grupo Beldover, Dra. Jessienne Duarte, de 26 anos, conhecida por Jessie “D, de durona”, do renomado – e CASADO – também advogado, o americano Dr. William Richardson Kindale, abalou a famosa empresa de advocacia. O advogado em questão é GENRO do dono da Beldover e sua esposa, a estilosa VERA KINDALE BELDOVER é po-de-ro-sís-si-ma...”.
Se o assunto continuaria ou não, Anna nem quis ouvir. Correu da cafeteria quase se esquecendo de levar os pacotes com o lanche dos colegas. Chegou ao prédio vizinho onde se situavam os escritórios da empresa Beldover sem fôlego. Procurou logo a sala de reuniões, no terceiro andar, onde os advogados de litígio estavam discutindo há semanas sobre um caso difícil de separação. Todos olharam quando Anna parou na porta com uma expressão de pânico no rostinho redondo que estava vermelho pelo esforço da corrida.
- O que foi? – Perguntou o Dr. Rui, correndo para aliviar Anna dos pacotes.
- Na TV... O no...ticiá...rio. Um... escân...dalo!
 Os olhos de Anna encontraram os de Jessie, que fitava sua assistente com espanto. Nesse instante, os telefones começaram a tocar quase ao mesmo tempo: os da sala, os celulares e o interfone. Anna tomou Jessie pela mão e a levou para outra sala, fechando a porta, transtornada.
Os outros ocupantes da sala de reuniões olharam-se aturdidos. O Dr. Elliot Almeida era o único que parecia mais preocupado com os pacotes dos lanches que o Dr. Rui largou na grande mesa de mogno polido. Os assistentes dos dois: Lisa e Alfredo ficaram atarantados com todo aquele alvoroço.
Fechando a porta da sala de Jessie atrás de si, Anna olhou para a amiga com desespero.
- Jess, estão divulgando na TV que você...- parou novamente para tomar fôlego - ...que você...
- Diz logo, Anna. Estou ficando aflita...
- Que você está grávida... – Jessie olhou para sua barriga um tanto volumosa de 5 meses sob o lindo vestido de organza e linho branco com detalhes em renda e voltou o rosto intrigado para a amiga.
- Não estou escondendo isso de ninguém. – Mas Anna falou para Jessie, quase chorando:
- Disseram que é... do Dr. Kindale... – Anna falou o mais depressa que conseguiu.
Como se tivesse ouvido seu nome, o próprio Dr. William Kindale entrou na sala. Parecia contido, mas um músculo traiçoeiro latejava em seu maxilar, denunciando seu conflito. Encarou Jessie com dificuldade. Ela nunca ficara tão embaraçada e espantada em sua vida.  Ele não parecia melhor do que ela.
- Já está sabendo? – perguntou o advogado com uma voz grave, quase sem sotaque para uma Jessie em estado de choque. Ela virou a cabeça, sem conseguir segurar aquele olhar inquisidor e implacável.
Respirando fundo, Jessie tentou acalmar os nervos que não pareciam dispostos a atendê-la. Suas pernas estavam trêmulas.
- Anna, traga um copo com água. – Dr. William ordenou, amparando Jessie. Seu rosto estava sem cor e parecia prestes a cair.
- Estou bem, não se preocupe. – Jessie fugiu do toque do advogado, procurando aparentar uma calma que estava longe de sentir. Deslizou na poltrona  de couro marrom que parecia estrategicamente escorada na parede.
- De onde pode ter saído isto? – Ele perguntou à Jessie, referindo-se a notícia que acabara de ser divulgada na imprensa sem que eles tivessem qualquer noção do que a causara. Ou quem.
- Eu... eu não sei...
- Will, o Dr. Beldover quer vê-lo. Agora. – a voz do Dr. Rui alertou-os pela porta aberta por Anna que trazia um copo com água. Sem mais nenhuma palavra, o Dr. William saiu da sala, mas o ambiente continuou carregado.

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