IV
O telefone
celular de Jessie tocou assim que ela chegou em casa.
-
Jessie? Sou eu, William. –Havia urgência e preocupação na voz do Dr. William
Kindale ao telefone .
-
Oi, como você está? – Jessie
jogou a bolsa no sofá e as chaves na mesa. Ficou tentando falar, enquanto
tirava os sapatos com uma careta de cansaço.
-
Eu estou bem. Queria avisar pra você não ficar se preocupando comigo. Precisa
se cuidar. Essa bomba estourando na sua mão. E eu respeito sua decisão de não
contar sobre o pai do seu filho...
-
Eu não queria ver você envolvido nisso. Eu sinto muito, William. Se eu pudesse
ter evitado o problema...
-
O Dr. Beldover pediu que você ficasse afastada por um tempo – William
interrompeu Jessie e disse num repente. Ela ficou quieta por uns instantes.
-
Jessie?
-
Oi... E os processos em que estamos trabalhando? Como vai resolver tudo
sozinho?
-
Ele vai ter conseguir ajuda. Mas não se
preocupe com nada. Cuide de você e do bebê. Sempre que puder, ligarei. Se não
incomodar, é claro.
-
Ele me dispensou, não foi? – Jessie interrompeu com voz cansada - Também acha
que temos um caso, não é? – Jessie falava com amargura e decepção sobre o velho
Dr. Beldover.
-
Ele quer apenas abafar o caso e manter as aparências na empresa. – William
respondeu com tristeza. – Mas não desanime, pois tudo vai ser esclarecido, mais
cedo ou mais tarde.
-
Tudo bem, William. Obrigada por me avisar.
-
Se cuida, ta?
Quando
desligou, Jessie pôde parar de se segurar e finalmente chorou.
Os dias se arrastaram
sem muitas ocorrências importantes. Jessie ficava ligada nos noticiários,
esperando que aparecesse alguma notícia do tal escândalo, ou simplesmente a sua
versão, mas nada mais falaram sobre o caso.
Como
se não bastasse o fato de ter pesadelos horrendos sobre aquela gravidez
inexplicável, agora tinha noites de insônia cada vez mais frequentes. Mesmo
acordada, ficava imaginando inúmeras hipóteses, cada qual mais obscura e
horrenda que a outra...
A sua rotina
estava cada vez menos interessante. Consultas médicas, exercícios, exames,
leituras sobre gestação... O momento menos angustiante era quando fazia suas
pesquisas sobre o que estavam trabalhando no escritório e fazia suas anotações
para ajudar na defesa ou acusação nos processos mais complicados. O divórcio do
casal Zarco era bem difícil os seus colegas advogados iriam precisar de toda
ajuda que tivessem.
Como
acionista da Beldover, Jessie recebia parte nos lucros da empresa, o que não
comprometia suas finanças pela perda do emprego. Mas foi com espanto que viu o
seu salário normal depositado na sua conta no fim daquele mês. É claro que,
como advogada, conhecia os seus direitos, mas não iria brigar na justiça se
eles resolvessem não lhe pagar. O Dr. Beldover que se exploda! – pensou com
mágoa e revolta.
Não
via ninguém há duas semanas, exceto Anna, que a acompanhava sempre em suas
consultas e exames médicos. Quando a campainha tocou naquela tarde, foi com
surpresa e desconfiança que Jessie abriu a porta para a Sra. Vera Kindale Beldover.
-
Olá, Senhora Beldover. O que... – Jessie não conseguiu terminar a frase, porque
a mulher morena e alta na sua frente lhe estapeou com um jornal que trazia na
mão.
-
Então, é aqui que a amante vagabunda do meu marido mora... – Foi tudo tão
rápido, que Jessie não teve tempo para esboçar qualquer reação. A mulher se
expressava com desprezo e zombaria. Empurrou Jessie e foi entrando, olhando
tudo como se estivesse com nojo. – Fique aí, Armand. – ordenou ao motorista que
a acompanhava - Terei o maior prazer em cuidar disso sozinha...
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